Kõ’Gõi: produto brasileiro pode trazer mais benefícios que um chá asiático milenar

A erva-mate ganhou espaço nessa semana em um evento que reuniu startups na área de alimentação. O mate Kõ’Gõi, criado pela Mate Tea from Brasil (MTfB), foi o representante da Ilex paraguariensis na Food Tech Expo 2021, evento que ocorreu online de 17 a 19 de março.

Além de expositor, o Kõ’Gõi foi um dos selecionados entre os 76 inscritos e apresentado na competição global – categoria Ingredientes para Dietas Nutritivas e Sustentáveis – tanto por seus aspectos nutricionais quanto pelo seu caráter de preservação ambiental.

Lançado no mercado em 2018, o Kõ’Gõi é um pó refinado a partir da folha da erva-mate. Com 99% de pureza (os palitos são retirados) e granulometria de 5 a 12 microns, ele pode ser utilizado em diversos preparos: de bebidas como latte a ingrediente em bolos, panquecas e brigadeiro. Com inúmeros benefícios à saúde e versatilidade de uso culinário, este é o matcha brasileiro.

Foi justamente a bebida asiática que o proprietário da MTfB, Heroldo Secco Junior, e sua equipe utilizaram como referência para o desenvolvimento do Kõ’Gõi. Observando o potencial do mate e as semelhanças com a Camellia sinensis, o produto é inspirado no matcha. Para Heroldo, o Kõ’Gõi supera o equivalente asiático em benefícios e sabor.

O produto brasileiro tem cerca de três vezes mais antioxidantes do que o matcha, além de seu poder termogênico ser também cerca de três vezes maior. “O sabor do matcha é preponderante nas receitas, ultrapassando outros ingredientes. Já o Kõ’Gõi é aglutinador”, destaca ele, ressaltando que receitas à base de Kõ’Gõi resultam em sabores mais equilibrados entre os ingredientes.

Além disso, o amargor típico do chimarrão e de outros produtos à base de mate foi evitado no Kõ’Gõi. Para a fabricação, as folhas são secas sem fumaça. O fato de as plantas serem sombreadas também garante o menor amargor. “Assim conseguimos salvar os 3% de açúcar que a Ilex paraguariensis naturalmente tem”, explica ele.

Assim como o matcha, o Kõ’Gõi é fabricado a partir de plantas oriundas de locais específicos, o que garante a estabilidade de aromas e sabores. São plantios com média de 840 metros de altitude em solo argiloso, com plantas sombreadas e sem uso de agrotóxicos. Além de garantir a qualidade do produto, a escolha desses fornecedores abre um ponto extra no leque positivo do Kõ’Gõi: a preservação ambiental. “Aqui o sombreamento é nativo e não artificial, como ocorre na produção de matcha na Ásia”, explica Heroldo. Assim, a cadeia produtiva do Kõ’Gõi inclui a preservação de matas nativas.

Patente

A pesquisa para criação do Kõ’Gõi começou em 2010. “Desenvolvemos um produto mais econômico do que o matcha, que pode ser reproduzido em escala industrial e que todas as ervateiras podem reproduzir, desde que respeitando os critérios de qualidade exigidos”, explica Heroldo. O objetivo era um processo que pudesse ser replicado em qualquer ervateira. Para isso, partes do processo tradicional de secagem das folhas é utilizado. Depois, a folha é refinada e homogeneizada.

Em 2018, a MTfB depositou a patente tanto do processo de produção quanto do Kõ’Gõi em si. Ela diferencia os atuais produtos da erva-mate, como a erva para chimarrão e tererê e a goma de mate, do Kõ’Gõi. A patente aguarda análise e publicação definitiva.

Uma das expectativas de Heroldo é não apenas criar uma marca, mas um novo padrão de produção. “O Kõ’Gõi é um novo padrão de mate que pode ser produzido por muitas ervateiras. Como o matcha, que é produzido por inúmeras empresas no Japão e na China há mais de 2.000 anos, o Kõ’Gõi traz consigo as características de cada terroir, de cada produtor.”, explica. Por enquanto, o Kõ’Gõi é produzido exclusivamente pela Mate Laranjeiras, do Paraná, empresa parceira no desenvolvimento do produto, cedendo matéria-prima e espaço para a pesquisa.

Produto internacional

Trabalhando com mate há mais de 20 anos, Heroldo Secco acredita que o Kõ’Gõi tem o potencial de extrapolar fronteiras e elevar o mate a seu devido lugar: o de um produto funcional, com benefícios reconhecidos à saúde e diversos usos culinários. Assim como os produtos do chá chinês, os do mate têm o potencial de ganhar cada vez mais o mercado internacional.

“O uso do mate sempre privilegiou aspectos culturais. Ao vender chimarrão e tererê vendemos a Ilex paraguariensis, a cuia e a bomba. Isso é um ritual. Quando se toma chá verde, preto ou branco, você não compra um ritual, você escolhe um produto. Vendendo só chimarrão e tererê forçamos o consumo de um produto que não agrada a todos”, afirma Heroldo Secco Jr.

Heroldo Secco Jr., proprietário da Mate Tea from Brasil (MTfB)

Propiciar a comercialização do mate de forma que cada pessoa escolha o melhor uso desse ingrediente é um caminho para levar o mate para além do sul do Brasil. Exemplo disso é um dos clientes do Kõ’Gõi: um dos principais compradores atuais é um fabricante de bolos funcionais, no Nordeste.

“Estamos inovando e trazendo junto as tradições para o consumidor que busca um ingrediente saudável, saboroso e versátil. Ele começa pelo sabor e pelos benefícios da planta, depois ele vai atrás da tradição e do ritual. Querer que o consumidor conheça o mate pelo ritual não é a forma de conquistar novos consumidores. Então nós libertamos o mate da cuia”, encerra Heroldo.

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