Estamos tomando mais chá. Essa bebida, cujo consumo no Brasil se dá principalmente em casa, teve seu consumo aumentado durante a pandemia. Na esteira desse hábito, que aos poucos se instala na casa do brasileiro, vem o chá-mate: ganhando espaço em diversos formatos, ele ruma à consolidação como produto não apenas saudável, mas também de requinte em complexidade e sabor.
O chefe comercial e de desenvolvimento de negócios da Leão Alimentos e Bebidas, Marcelo Correa, explica que 90% do consumo de chá no Brasil ocorre dentro de casa. Aliado a isso estão tendências atuais que o chá abrange. “O consumidor apresenta inclinação para a saudabilidade e naturabilidade, assim como elementos do ‘faça você mesmo’, de participar de um ritual e ver o que você está preparando. O chá entrega tudo isso: a funcionalidade, o ritual. Você participa do que vai consumir”, explica ele.
A empresa, uma líder no mercado de chá-mate, viu suas vendas crescerem no último ano, incluindo um de seus últimos lançamentos. Buscando incentivar o consumo de chás fora de casa, a Matte Leão lançou em 2019 um chá de infusão para água gelada, uma maneira de trazer o consumo para fora das residências. “A pessoa está na rua, a caminho do trabalho e pode fazer sua infusão”, diz Marcelo.
Um produto para cada gosto e quantidade
Se o brasileiro ainda toma pouco chá per capita quando comparado a outros países, o aumento no consumo tem incentivado novos produtos. A Inovamate, empresa de Ilópolis (RS), tem a erva-mate como base para seus blends de chás. São 5 blends na linha Matequero, cada um unindo o chá-mate a ingredientes tradicionais de cada região do Brasil: tem chá-mate com buriti, abacaxi e gengibre; com coco, cacau e anis estrelado, entre outros. Essa foi a estratégia para aproximar o consumidor da erva-mate, unindo-a a produtos já conhecidos em cada região.
“Vale lembrar que o Brasil conhece o chimarrão e muitos associam a algo que não é tão legal, pois a imagem que foi passada na maioria das vezes foi de uma bebida rústica e amarga”, lembra Ariana Maia, sócia da Inovamate. “Mas os brasileiros têm uma afeição por blends e, trabalhando as regiões do Brasil com ingredientes de cada uma delas, buscamos os sabores únicos e característicos da cultura local, criando uma ligação com o consumidor”, acrescenta.
A aposta por sabores especializados também foi a da Baldo. A empresa, reconhecida pela erva-mate para chimarrão, tem uma linha de chá-mate com diferentes tostas e blends. O vice-presidente da empresa e presidente da Câmara Setorial da Erva-Mate no Ministério da Agricultura, Leandro Gheno explica que o chá-mate está na mesma categoria do café e do chá-verde – produtos que tipicamente usam tostas e formas de processamento diferenciados para agradar a distintos paladares.
Na empresa, o chá-mate é uma forma de levar a erva-mate para mercados no qual a forma tradicional de consumo no chimarrão não tem aceitação. Sendo uma infusão, o preparo do chá-mate é facilitado independente da cultura. A empresa lançou nesse ano sachês de 25 gramas: cada sachê pode preparar 1,5 litros de chá, tornando o preparo da bebida mais prático – mais uma alternativa de produto.
Segunda bebida mais consumida no mundo, o chá ainda tem expressão tímida entre brasileiros. O cafezinho ainda é, inegavelmente, o queridinho do Brasil. Porém, o aumento do consumo de chás e infusões está registrado em números. Dados do IBGE mostraram o aumento de 20 pontos percentuais no consumo de chá entre 2009 e 2018 – o número corresponde a um crescimento de 25%. E a ordem de ficar em casa durante a pandemia de Covid-19 já indica um crescimento ainda maior – mesmo sem dados, algumas empresas estão observando a venda de chás aumentarem. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o mercado de chás deve crescer de 4 a 5,5% anualmente até 2024, alcançando 73 bilhões de dólares.
Outras empresas apostam em formas ainda mais modernas de consumo, investindo nas cápsulas para Nespresso e Keurig. A empresa americana Milonga Mate acaba de lançar cápsulas de mate com canabidiol para máquinas da Keurig. As cápsulas já fazem parte do mercado brasileiro, com uma versão de mate e blends de chá-mate da Matte Leão.
Curitiba Tea? Capital abrigou primeiras indústrias de chá-mate no Brasil
O produtor cultural e idealizador do Matte N’ Roll, André Zampier, lembra que o chá-mate ainda representa menos de 10% do mercado de erva-mate no Brasil – o restante é direcionado para chimarrão. Porém, ele ressalta o exponencial aumento de valor agregado nesse produto: “O quilo do mate em folha é cerca de R$ 2,00, para o chimarrão sobe para R$ 20,00, já o chá chega a R$ 200,00. É uma tendência. A Alemanha, por exemplo, compra matéria-prima para industrializar lá. A gente poderia industrializar mais”, defende.
Uma mente criativa por trás de eventos culturais em torno da erva-mate, André vai além e defende a criação de uma nomenclatura que valorize o chá-mate como um produto tipicamente curitibano. “As primeiras empresas de chá-mate estão em Curitiba, a Mate Real e a Matte Leão. Elas começaram e aperfeiçoaram os métodos de tosta. Pretendo instituir esse como o chá de Curitiba, o Curitiba Tea”, conta ele.
“O chá é das bebidas mais consumidas no mundo, não tem como errar investindo nele, ao menos em termos de consumo. Mas temos que desvincular ele do chimarrão, pois não agrega valor, deprecia”, finaliza André, acrescentando que a proposta visa valorizar o produto criado na cidade, assim como incentivar o aumento da produção de chá-mate tostado.