Entre os diversos tipos de adubação disponíveis para a erva-mate, é comum haver dúvida sobre as melhores estratégias. A base da escolha está no tipo de adubação: orgânica ou química?
O agrônomo do escritório municipal da Emater-RS de Palmeira das Missões, Felipe Lorensini, explica as diferenças básicas entre as duas. Com doutorado em Ciência do Solo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ele conta como a matéria orgânica atua nos ervais e quais seus benefícios.
Sincronia
Uma das principais diferenças entre os dois tipos de adubação está na velocidade de disponibilização dos nutrientes. A maior parte dos adubos químicos têm liberação rápida – caso sejam aplicados em épocas em que há menor absorção, alguns adubos não são bem aproveitados. “Adubos químicos são muito solúveis, assim que há umidade no solo eles são solubilizados e estão disponíveis para as plantas”, explica Felipe.
Potássio e fósforo têm pouca mobilidade no solo. Caso a planta não faça a absorção de forma rápida, eles ainda estarão disponíveis. Já o nitrogênio é um elemento muito móvel, especialmente na forma mineral (caso dos adubos químicos). A ureia, por exemplo, se perde por volatilização e deixa nitrato acumulado no solo – esse componente é muito móvel e pode ser perdido nas chuvas e até irrigação, por lixiviação (um processo erosivo ocasionado a partir da lavagem da camada superficial do solo pelo escoamento das águas superficiais, que pode resultar no depósito excessivo de elementos e minerais em rios, lagos e lençóis freáticos). O agricultor acaba gastando sem ter os resultados esperados.
Caso a escolha de adubação nitrogenada para culturas perenes seja através de produtos químicos, a indicação é fazer o parcelamento, em pequenas aplicações que podem ser divididas em duas, três ou até quatro vezes ao longo do ano.
Já os adubos de origem orgânica (que incluem adubação verde, resíduos de roçagem, podas de galhos, cama de frango, esterco, etc.) têm uma sincronia maior entre a disponibilização de nutrientes e a absorção pela planta, o que resulta em maior aproveitamento. “Em plantas perenes a adubação orgânica tem resultados melhores e favorece os mecanismos de absorção”, indica Felipe.
Eis um detalhe importante para atentar na adubação de ervais. A dinâmica de plantio da erva-mate exige deixar de lado as regras para culturas anuais, que têm comportamentos distintos de absorção. Enquanto culturas como milho e soja crescem rapidamente, acumulando grande quantidade de biomassa em poucos meses e, portanto, absorvendo rapidamente os nutrientes do solo, plantas perenes vivem em outra lógica. Nelas, nutrientes são absorvidos de forma mais lenta e contínua. Há variação ao longo do ano, mas a absorção segue ocorrendo.
“A gente tem que lembrar que o erval passa 365 dias do ano, por 20 anos, absorvendo nutrientes. Na primavera há uma taxa de absorção maior, mas agora no inverno a planta não está morta, ela segue absorvendo”, indica. Os nutrientes absorvidos no inverno ficam armazenados na raiz e caule das plantas e é apenas na primavera, quando começa a brotação, que esses nutrientes são mobilizados para a criação das novas folhas. Fato é: as regras de lavouras anuais não valem para a erva-mate. Entender essa dinâmica é fundamental para acertar na adubação.
Além do fator do tempo e da disponibilização e absorção de nutrientes, os adubos orgânicos contém uma ampla gama de micronutrientes fundamentais à saúde do solo. Já adubos químicos são específicos para suas funções, atuando diretamente com seu ingrediente base.
Mas por qual estratégia optar?
“Eu gosto de usar o adubo orgânico como base, mas cada erval tem necessidades diferentes. Posso usar o orgânico e corrigir deficiências específicas com adubos minerais, para nivelar carências”, indica Felipe. Uma análise de solo aliada a escolhas de estratégias são os caminhos para garantir uma boa adubação.
Ainda assim, garantir o aumento da matéria orgânica do solo é importante e só alcançável através de adubos orgânicos.
Por que a matéria orgânica é importante?
A matéria orgânica é um dos fatores fundamentais que influem na produtividade de um erval. Essa é a parte viva do solo, que dá a base para as plantas crescerem de maneira saudável e com menor incidência de doenças. É aqui que microrganismos, nutrientes e plantas interagem: o resultado são sistemas mais equilibrados.
Ela influi tanto nas estruturas físicas e químicas, quanto na biologia do solo. Na parte física, ela afeta a estrutura, formando os agregados que retém umidade, disponibilizando mais água. “É como a argamassa entre os tijolos. O solo é como o tijolo e a matéria orgânica é como o cimento que dá a estrutura”, explica Felipe.
Na parte química, a matéria orgânica é fundamental, afetando diretamente na interação de nutrientes e absorção pelas plantas. Felipe ressalta que a dinâmica em um solo sem matéria orgânica muda muito. Afinal, é ela que comanda boa parte da dinâmica do solo, sendo a fonte de alimento para microrganismos, ditando a fertilidade e disponibilidade de nutrientes do solo. Os micronutrientes estão todos intimamente ligados à quantidade de matéria orgânica do solo, assim como o fósforo. “É o que precisa para ter um sistema mais equilibrado”, explica o agrônomo.
Um bom exemplo da importância da matéria orgânica no solo é a disponibilidade de nitrogênio. Antes de fazer qualquer adubação nitrogenada, é importante fazer a análise de solo. São os níveis de matéria orgânica que vão ditar a quantidade de nitrogênio a ser aplicado – mesmo que se opte pela adubação química. Por quê? “O teor de matéria orgânica vai ditar quanto o solo pode fornecer de nitrogênio para a planta, pois quase todo o nitrogênio que está no solo está na matéria orgânica”, explica.
E há ainda a parte ligada à biologia do solo. Em sistemas naturais, como florestas, há equilíbrio entre os diversos microrganismos presentes no solo. Mesmo um fungo que ataca plantas não causa grandes distúrbios, pois há diversidade de alimentos para ele.
“Em uma monocultura há apenas um tipo de alimento, o que favorece alguns grupos de microrganismos em detrimento de outros. Por isso os fungos na mata não causam dano, mas na lavoura causam a morte de plantas”, explica Felipe. Ele acrescenta que em lavouras onde há rotação de culturas, mesmo que nas entrelinhas, o sistema se equilibra devido à disponibilidade de alimentos diversos para os distintos grupos de microrganismos.
Em Machadinho/RS, agricultor percebe benefícios da matéria orgânica
O agricultor Adroaldo Brandão confirma os benefícios da adubação orgânica. Com cinco hectares de Cambona 4 e dois de ervais nativos, Adroaldo passou a utilizar cama de frango nos plantios. São cerca de três aplicações por ano, em ervais de idades que variam de um a 20 anos.
A broca da erva-mate, por exemplo, é uma praga com a qual ele não se preocupa mais. “Quando vejo a serragem no pé da planta, coloco o adubo e serragem por cima, que veda e mata a broca”, conta ele. Além de utilizar a cama de frango de seus próprios aviários, ele aposta na cobertura do solo com aveia, azevém e nabo forrageiro, que impedem o aparecimento de ervas daninhas no verão. “Até hoje não encontrei adubo melhor do que esses”, conta ele.
Mas não foi sempre assim. Antes de adquirir os tratores que possibilitam a adubação orgânica, Adroaldo não tinha essas práticas. Hoje, ele vê a diferença na produtividade, que chega ao dobro do que ele colhia antes. Em uma área com 0,7 hectares, por exemplo, já foram colhidos até 1504@ de mate em um ano. As boas colheitas são um incentivo para continuar plantando. Neste ano ele já implantou mais um hectare de erva-mate na propriedade, que fica em Machadinho, Rio Grande do Sul.
Confira as fotos do erval do agricultor Adroaldo Brandão:
ORGÂNICO , CONVENCIONAL , TRANSGÊNICO , NOVO CARBONO E OUTRAS QUE VEM AI.
QUAL O ALINHAMENTO DOS PRODUTOS NA GÔNDOLA , A ONDE FICA O CONSUMIDOR !
∆
QDB ALIMENTOS ! PODENDO LEVAR PRO CONSUMIDOR A ORIGEM DO PRODUTO .