Especial Nutrição (parte 1): como adubar a erva-mate do plantio à colheita?

O Portal do Mate convidou um especialista em nutrição de erva-mate, o engenheiro florestal Delmar Santin, para nos guiar numa série de três reportagens. Em cada uma delas, vamos explorar detalhes da adubação de ervais, desde a implantação até a fase produtiva, passando pela calagem e pela adubação orgânica.

Santin possui mestrado, doutorado e pós-doutorado em solos e nutrição de plantas, com pesquisas sempre voltadas à erva-mate. Também é consultor, produtor e pesquisador, atuando em parceria com a Embrapa Florestas, UFPR e IFSC.

Foto: Delmar Santin / Arquivo pessoal

A adubação de um erval é um tema que exige atenção. Especialistas se dedicam a testes e estudos, buscando o melhor equilíbrio entre o que a planta precisa, os melhores momentos para a aplicação e os menores custos. Cultura perene, a erva-mate não exige adubação apenas na implantação, mas ao longo de todo seu ciclo de vida, de forma a compensar os nutrientes exportados na colheita das folhas e galhos.

Apesar de todo produtor poder se capacitar para fazer essa adubação, Delmar já indica: consultar um técnico da área (técnico agrícola, engenheiro agrônomo ou florestal) é importante para não errar nessa etapa fundamental para manter ervais com alta produtividade, baseada em um sistema sustentável de produção.

  1. Quero implantar um erval. Como começar?
  2. Qual adubação adotar no plantio?
  3. Há adubações diferentes para cada fase de crescimento da planta?
  4. Como adubar entre as colheitas?
  5. Quando fazer a reposição nutricional em ervais em fase de produção?
  6. Adubação de ervais com culturas anuais nas entrelinhas
  7. Quanto tempo antes da colheita se faz adubação?

1 – Quero implantar um erval. Como começar?

A análise de solo

O preparo do solo para o plantio de erva-mate é fundamental para o bom desenvolvimento das plantas – sem essa primeira etapa bem executada, a possibilidade de sucesso de um erval reduz drasticamente. Delmar Santin faz uma analogia com nossa saúde de uma pessoa. “As plantas não são muito diferentes de nós humanos. Quando estamos doentes, o médico normalmente pede exames básicos de sangue. No caso das plantas também temos que saber o que tem no solo antes de pensar em nutrição. Então a primeira coisa antes de instalar um erval é fazer a análise de solo básica”, indica ele. Esse é o caminho para entender o solo que receberá as plantas e quais nutrientes estão disponíveis ou em carência.

Normalmente, técnicos agrícolas são os responsáveis por ler os relatórios de análise de solo e indicar quais nutrientes (e em que quantidade) devem ser aplicados antes do plantio. Além disso, Delmar lembra da importância de fazer essa análise já pensada para os tipos de materiais genéticos que serão plantados. “Hoje temos uma variedade grande de materiais, a Embrapa tem materiais mais suaves ou mais amargos, com mais alto ou mais baixo teor de cafeína”, destaca.

Santin ainda reforça que não é somente a parte química do solo que se deve receber atenção, mas também a parte física: solos compactados devem ser descompactados antes de realizar o plantio.

A Embrapa disponibiliza gratuitamente o aplicativo Ferti-Matte (disponível para Android) para auxiliar nos cálculos de nutrição de ervais.

“Para gerar a recomendação de adubação no app, precisa entrar com dados de análise de solo e selecionar quais adubos, para então gerar a recomendação de adubação. É excelente, mas o produtor deve estar ciente do conhecimento técnico para não haver equívocos”.

— Delmar Santin, pesquisador e especialista em nutrição de erva-mate

2 – Qual adubação adotar no plantio?

A adubação do plantio

Atualmente, a indicação é aplicar apenas fósforo nas covas de plantio e adicionar o nitrogênio e potássio após a pega da muda, alguns meses depois do plantio. “Os manuais até indicam a aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio direto na cova, porém hoje recomendamos que somente o fósforo seja incorporado”, explica ele. “Quando ocorrem eventos climáticos normais, a adubação nitrogenada e potássica na cova funciona bem, mas com estiagem pós-plantio, interfere um pouco na planta e acaba favorecendo a morte”, explica ele.

Fósforo: a dose correta de adubação fosfatada a ser incorporada é feita com base na análise de solo e do volume de terra de cada cova. “Muito cuidado, pois em muitos casos leva-se para o técnico fazer o cálculo e diz-se que a cova terá 30x30x30 centímetros, porém a mão de obra faz uma cova de 20x20x20cm. Ou seja, o adubo é concentrado em quase duas vezes a mais a quantidade recomendada. Então, se falta chuva, as mudas podem morrer por excesso de adubo”. Portanto, cuidado para não reduzir o tamanho da cova, ela deve ser igual ou maior ao tamanho previsto no cálculo de adubação. O fósforo incorporado na cova na dose adequada é fundamental, pois auxilia no crescimento radicular da erva-mate, favorecendo maior índice de pegamento de plantas a campo.

Nitrogênio e Potássio: “Só se recomenda aplicar após o pegamento da muda, ou seja: se o plantio é feito no inverno, coloca-se o adubo fosfatado na cova e nitrogênio e potássio em setembro ou outubro, normalmente. Se o plantio é feito em agosto e setembro, nitrogênio e potássio são aplicados superficialmente em janeiro ou fevereiro”. A adubação pós-plantio é aplicada superficialmente em torno da planta, sem incorporar, a uma distância de 25 cm do tronco (adubo junto ao tronco pode matar a planta).

3 – Há adubações diferentes para cada fase de crescimento da planta?

A adubação nas 3 fases de crescimento

A nutrição da erva-mate muda para cada uma das fases de crescimento da cultura:

Arte: Welington Lima / Pixsul

“Para cada fase existe uma demanda diferente da cultura, em função da estrutura da planta. À medida que ela cresce, ela produz mais e exporta mais nutrientes do local, então requer uma dose diferente para compensar o que está saindo”, explica Delmar. “Isso é muito importante para não se aplicar excesso na planta pequena ou falta na planta grande. E são essas as questões que deve-se tomar cuidado ao informar o técnico”, explica Santin.

4 – Como adubar entre as colheitas?

A adubação na fase de produção

No diagnóstico de solo e nutrição dos ervais do Rio Grande do Sul, feito pela Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR-RS), foi identificado que 15% dos produtores de erva-mate não fazem adubação nos ervais em fase de produção. Delmar Santin indica que essa adubação é crucial para manter os níveis de produtividade altos.

“A exportação de nutrientes pela colheita da erva-mate é alta. Em uma planta, a maior concentração de nutrientes está na semente e no fruto, depois nas folhas. E no mate a gente colhe justamente a folha”. Ele explica que, na comparação com lavouras de soja e milho, por exemplo, a exportação de nutrientes da erva-mate é mais elevada.

“Para manter o erval altamente produtivo, é preciso repor esses nutrientes que são extraídos pela erva-mate do solo. Caso contrário a produtividade vai reduzir com o tempo”, explica ele. Mesmo que outros fatores como água, luz e temperatura também influenciem no crescimento da planta, a reposição de nutrientes é fundamental.

5 – Quando fazer a reposição nutricional em ervais em fase de produção?

Quando aplicar a adubação

Primeiro, o técnico deve ser informado sobre a análise de solo e a produtividade da área. A adubação será feita de acordo com os intervalos de colheita. Se a colheita ocorre a cada 18 meses, a recomendação é fazer a adubação baseada nesse período, dividida em 3 parcelas iguais. Se a colheita é feita a cada 2 anos, a dose será dividida em 4 parcelas iguais. Na fase de produção recomenda-se aplicar os adubos em área total, sem incorporar.

“Normalmente, o mais recomendado é aplicar os abudos na época em que começa o processo vegetativo (quando a planta começa brotar), a fase de brotação, que ocorre em setembro. Depois a adubação ocorre em janeiro ou fevereiro. Essas são as duas épocas indicadas para a adubação da erva-mate”.

Fósforo (P): pode ser parcelado igualmente ao nitrogênio e potássio (3 ou 4 vezes, conforme intervalo de colheita) ou realizar uma aplicação por ano, em setembro. “Como o fósforo é pouco móvel no solo, ele não se perde”.

Potássio (K) e Nitrogênio (N): deve sempre ser feita 2 vezes no ano, em janeiro ou fevereiro e depois em setembro.

Quanto aos melhores produtos, Delmar indica que varia. É importante que os técnicos descrevam, além da quantidade do nutriente puro (nitrogênio, fósforo e potássio), também a quantidade dos principais adubos disponíveis no mercado. “Então o produtor consegue ir no mercado e ver qual é mais barato aplicar. Não vão em busca de marcas, mas do que é mais econômico”.

6 – Adubação de ervais com culturas anuais nas entrelinhas

Quando mais de uma cultura está inserida na mesma área, a adubação passa a ficar mais complexa. A principal diferença, explica Santin, é que a adubação da erva-mate, nesse caso, precisa ser feita diretamente por planta, assim como nas culturas anuais, de forma que a adubação seja localizada. No caso de ervais sem outras espécies, a adubação pode ser feita a lanço.

Ele também ressalta que a correção de pH do solo pode interferir na erva-mate de maneira negativa, já que essa planta gosta de solos ácidos, diferentemente das plantas anuais. Esse tema será abordado na segunda reportagem da série sobre adubação (aplicação de calcário).

7 – Quanto tempo antes da colheita se faz adubação?

A adubação deve ser feita no máximo 3 meses antes da colheita. “Muitos adubam um mês antes da colheita, especialmente na safrinha. Nessa condição, o material entregue está em pleno vigor vegetativo e isso não é bom para a planta nem para a indústria, pois dificulta o processo de sapeco e secagem de forma adequada na indústria”.

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