Aumento dos viveiros de erva-mate preocupa pela baixa qualidade

Nos últimos três anos, o mercado de mudas de erva-mate aqueceu. A maioria dos viveiros vendeu 100% das mudas produzidas e o fenômeno se repete em 2021. O aumento expressivo de comercialização vem na esteira da valorização da folha de mate, que teve aumento de preço e impulsionou novos plantios. A grande procura também incentivou o crescimento do mercado de viveiros, com aumento de produção e abertura de novos negócios. Porém, essa expansão rápida vem com uma preocupação que impacta diretamente os agricultores: a qualidade das mudas.

Considerada de dificuldade, a produção de mudas de erva-mate exige cuidados específicos. O engenheiro agrônomo Ilvandro Barreto de Melo, da Emater-RS, vê com preocupação o crescimento de um mercado sem o acompanhamento de experiência e conhecimento. “Nos últimos dois anos recebemos muitas dúvidas sobre manejo interno de viveiros”, conta ele.

A preocupação se reflete no campo. Enquanto uma perda de 5% é considerada comum para os padrões da cultura, os índices têm sido maiores. “Eles beiram a casa dos 30% e em anos como o de 2020, os números variaram em algumas situações entre 80 e 90% de perda, potencializada pela estiagem e calor”, explica.

Alguns agricultores já sentem na pele as consequências de mudas de baixa qualidade. Em 2020, André Hackenhaar, do Sítio Cyrocela, no Rio Grande do Sul, comprou um lote de mudas com problemas fitossanitários que resultou em 50% de perda no campo. “As mudas apresentaram uma boa brotação, mas no plantio percebi que elas tiveram dificuldade de se desenvolver”, lembra ele. Acrescido da estiagem atípica que assolou o sul do Brasil no ano passado, metade das mudas não enraizaram.

A erva-mate é uma cultura perene, diferente de uma cultura anual que, quando comprometida, na safra seguinte se corrige. Na erva-mate, a correção é a erradicação total e a realização de um novo plantio, isso custa muito caro e se perde muito tempo. Portanto, acertar na primeira tentativa é fundamental

Ilvandro Barreto de Melo, eng. agrônomo da Emater-RS

Uma situação que comprova a necessidade de mudas de alta qualidade são os frequentes replantios, o desenvolvimento irregular de plantas e também a heterogeneidade nos ervais. Ilvandro explica que ervais de baixa produtividade têm sua maior produção retirada de cerca de 30% das árvores plantadas, enquanto um erval homogêneo têm uniformidade entre as plantas e menor dependência de plantas específicas.

Mudas são mais sensíveis que as de pinus e eucalipto

Assim como outras culturas, um bom viveiro precisa de uma estrutura física adequada, com ventilação e insolação natural propícios. O microclima no interior do viveiro deve manter temperaturas médias de 20ºC. “Ambiência com temperaturas muito baixas retardam o crescimento das mudas. Temperaturas altas, baixa condição de aeração e alta concentração de umidade facilitam a ocorrência de doenças”, explica Ilvandro.

Viveirista desde 2006, Clairton Fonseca, do Viveiro Matrix em Machadinho (RS), trabalha com mudas de Cambona 4. Ele ressalta que boa parte do trabalho de um viveiro de erva-mate é semelhante ao de outros viveiros, porém alguns tratos culturais fazem do mate uma muda mais sensível que outras espécies.

Muda ideal. Foto: André Hackenhaar

Além da germinação longa e baixa, o sombreamento de mudas de mate é diferente de outras espécies, como o pinus ou o eucalipto. “E o mate é mais sensível em todos os momentos de produção da muda, sendo mais exigente em conhecimento que as mudas de eucalipto ou pinus, por exemplo”, destaca.

Erros em qualquer etapa do processo de produção podem inviabilizar a muda. Mesmo com todos os cuidados, ele lembra que perdas de até 10% são comuns, seja por baixa germinação ou defeitos em mudas que devem ser descartadas.

Clairton também indica que as mudas de mate são muito suscetíveis à umidade. Ilvandro acrescenta que em um viveiro que segue as normas de construção, higienização e manejo, as doenças são mínimas. Porém, sem esses cuidados, doenças como tombamento, antracnose, pinta preta, podridão radicular e cercosporiose podem ocorrer na muda de erva-mate.

A qualidade do substrato é fundamental – o agricultor André identificou que o substrato das mudas perdidas era mais fino e menos consistente. “Ele resseca mais rápido e, em períodos de veranicos, faz a muda sofrer estresse hídrico, afetando o desenvolvimento ou até a morte em caso de mudas mais fracas”, observa.

Garantir um bom plantio exige mudas fortes e saudáveis. Ilvandro descreve que uma muda com vigor precisa de um “sistema radicular bem estabelecido e devidamente estruturado, com raiz principal e volume de raízes secundárias capaz de enfrentar as adversidades do plantio a campo”.

Para além das raízes, um sistema aéreo com folhas abundantes e saudáveis é importante, assim como a uniformidade entre os sistemas radicular e foliar. As mudas devem ser entregues quando atingem cerca de 20cm na parte aérea, passando pela etapa de rustificação no tempo adequado – é nessa etapa que a muda sai dos cuidados especiais dos viveiristas e é preparada para ganhar o campo, enfrentando possíveis adversidades e estresses.

Para os agricultores, a dica é ficar de olho no recebimento de mudas para sinais de doenças. Conhecer as doenças mais comuns no mate e seus sintomas nas plantas também é fundamental para reconhecer problemas com antecedência e até evitar um plantio que pode causar prejuízos.

Como começar?

Quem tem interesse em começar a atividade de viveirista de erva-mate pode procurar o órgão agrícola técnico de seu estado para informações e obtenção de guias.

No Rio Grande do Sul, o trabalho é feito pela Emater, através do Programa Gaúcho para Qualidade e Valorização da Erva-Mate (PGMate), que mantém um comitê específico para produção de sementes e mudas. São 35 técnicos no estado que auxiliam tanto produtores de mate quanto viveiristas com informações técnicas e auxílios para o desenvolvimento e planejamento do trabalho. O viveiro também deve ser legalizado junto à Secretaria de Agricultura do Estado.

Em Santa Catarina, o atendimento é realizado pela Epagri. Os escritórios municipais estão à disposição para dar orientações técnicas. Clique aqui para acessar os contatos da Epagri. Os produtores também podem buscar apoio à distância pelo app Epagri Mob, disponível para Android e iOS.

A Embrapa Florestas também pode orientar os viveiristas e demais produtores sobre dúvidas e informações por meio do Serviço de Atendimento ao Consumidor: www.embrapa.br/fale-conosco/sac.

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