Um projeto está retomando o plantio de erva-mate no Mato Grosso do Sul. Coordenado pelo pesquisador Rogério Guerino Franchini, da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer-MS), o trabalho já implantou ervais em 210 propriedades rurais. Mais do que incentivar o plantio, dando suporte econômico a pequenos agricultores, o objetivo é o resgate cultural dessa planta.
Com verba de R$ 2,75 milhões através de emenda parlamentar liberada pela Superintendência de Desenvolvimento do Centro Oeste (Sudeco), o projeto Fortalecimento da Cadeia Produtiva da Erva Mate na Região Sul Fronteira de Mato Grosso do Sul já realizou o plantio de 210 hectares de ervais, distribuídos entre 210 agricultores. Em sua maioria assentados e indígenas, eles estão localizados em 10 municípios (veja no mapa abaixo) que cobrem toda a área na qual a erva-mate é nativa.
2020 foi o ano de implantação das lavouras. Cada produtor recebeu 2400 mudas, além do custeio para o plantio, com diesel, adubo químico e orgânico e sementes de crotalária para sombreamento. O trabalho segue nesse ano com o replantio de perdas. “Tivemos uma seca muito intensa, então algumas áreas chegaram a perder 70% das mudas. Isso já estava previsto, então vamos repor as perdas e entregar mudas novas para 18 produtores que ainda não realizaram a implantação. Nossa expectativa é realizar todo esse trabalho entre o fim de março e junho, com plantio de 350 mil mudas”, fala Rogério.
O clima mais seco é uma das principais dificuldades para a implantação dos novos ervais. “Tivemos que desenvolver um modelo próprio de plantio. No sul as temperaturas são mais amenas e a umidade do ar não é tão baixa, então a mortalidade das mudas é menor. Aqui temos que ampliar o sombreamento, por isso o uso da crotalária”, conta Rogério. Para amenizar as perdas do segundo plantio, o projeto deve fornecer sistemas de irrigação com gotejo para todos os ervais.
Resgate na fronteira norte da erva-mate
O Mato Grosso do Sul é o estado mais ao norte do Brasil com incidência de erva-mate nativa. A planta faz parte da cultura local e é compartilhada em toda a extensa fronteira com o Paraguai. Herança dos indígenas, o tererê é a principal forma de consumo da erva, representando 71% do consumo.
O desmatamento de ervais nativos, com a implementação de lavouras de soja e milho, até a falta de incentivo ao produtor familiar e pouco investimento em pesquisa fazem parte dos fatores que levaram à diminuição dos ervais. O consumo, porém, segue representativo. Hoje, o estado produz apenas 6% do que é necessário para as ervateiras processarem – o restante é importado dos estados do Sul, Paraguai e Argentina.
A lacuna do fornecimento faz do plantio atrativo para pequenos agricultores. A colheita dos ervais do projeto deve ocorrer em 3 ou 4 anos, com expectativa de R$ 18 mil a R$ 20 mil de renda a cada 18 meses, em colheitas de 15 a 18 toneladas por hectare. Se os números não são altos em comparação a outros estados, eles já são muito relevantes para os agricultores do programa e para aumentar a produção local da erva. A procura de novos agricultores para participar do projeto foi grande e há intenção de fazer uma nova etapa credenciando novos agricultores.
Mudas locais
APENAS UM VIVEIRO TRABALHA COM MUDAS DE ERVA-MATE NO MATO GROSSO DO SUL – AS MUDAS PLANTADAS VIERAM DE SANTA CATARINA.
O PROJETO VISA CONSTRUIR, NESTE ANO, UM VIVEIRO NO MUNICÍPIO DE AMAMBAÍ, EM PARCERIA COM PREFEITURA, PARA GARANTIR O FORNECIMENTO.
“NA FASE INICIAL O VIVEIRO VAI REPOR AS MUDAS, POIS HAVERÁ MAIS PERDAS. PREVEMOS QUE NO ANO QUE VEM JÁ TENHAMOS DE 100 A 120 MIL PARA O PROJETO. FUTURAMENTE O VIVEIRO VAI FORNECER PARA NOVOS PRODUTORES”, AFIRMA ROGÉRIO, PONTUANDO QUE ESSE É MAIS UM PASSO PARA RESGATAR A CULTURA DA ERVA-MATE NO ESTADO.