Um dos itens fundamentais para um bom chimarrão virou tema de livro. A bomba é tema de pesquisa do designer gráfico Ricardo da Silva Mayer, de Santa Maria (RS), desde 2014. Agora, um livro será lançado, apresentando o resultado de suas investigações. Para viabilizar a impressão, a obra conta com um projeto de financiamento coletivo na plataforma Catarse.
“Bombas de Chimarrão – Origens, Tradição e Cotidiano” tem 80 páginas, nas quais é apresentado o resultado da pesquisa de Ricardo, realizada durante o mestrado em Patrimônio Cultural na Universidade Federal de Santa Maria. “A pesquisa sobre bombas de chimarrão nasceu da observação do hábito das famílias de transmitirem bombas de uma geração à outra. Como em décadas passadas predominavam bombas de prata, elas eram objetos valorizados. Na minha família mesmo ocorreu isso”, conta ele.
O conteúdo da obra é dividido em três eixos: origens, tradição e cotidiano. A pesquisa, realizada em diversos idiomas, incluiu livros e documentos a partir do século 16 e imagens a partir do século 18. A pesquisa também extrapolou limites de território. “Para entender as origens mais remotas do hábito, a cultura da erva-mate, o desenvolvimento dos artefatos para o consumo do mate, a prataria, etc, foi necessário olhar para a América Espanhola. Inclusive porque as fronteiras atuais só se definiram no século 19”, explica o autor.
O resultado foi uma surpreende revelação quanto a origem desse artefato. “No início eu acreditava na versão tradicionalista segundo a qual, antes da Conquista, os indígenas tomavam mate da mesma forma como tomamos hoje. Porém, a documentação do século 18 indica que foram os conquistadores espanhóis que introduziram a bomba, além de provocarem outras mudanças no modo de processar e consumir a erva-mate”, explica Ricardo.
Outro dado interessante é que, enquanto hoje o chimarrão é associado a um hábito de uma vida simples, o consumo de mate já foi um hábito das elites espanholas. “Durante os séculos 17, 18 e 19, isso demandou a criação de artefatos em prata com grande requinte. Era uma forma de dar prestígio social a um hábito cuja origem está na população indígena”, conta Ricardo.
O acervo de colecionadores particulares serviu de grande apoio para sua investigação e registro de modelos incomuns de bombas. Esses colecionares supriram uma lacuna deixada pelos museus brasileiros, que dedicam pouco espaço para a cultura da erva-mate e do chimarrão. Segundo Ricardo, o melhor acerto sobre o tema encontra-se no Museu Paranaense, em Curitiba.
Ricardo também compreendeu que as bombas têm um valor sentimental para seus donos. “Há tanto a valorização de bombas que foram dos antepassados, quanto o desejo de que sejam preservadas”, afirma. Mais do que um utensílio, bombas de chimarrão se tornam heranças de família, carregando significados e memórias antigas.
Como apoiar
A pesquisa de mestrado de Ricardo transformou-se primeiro em uma exposição itinerante. A chegada da pandemia de Covid-19, porém, interrompeu o ciclo de exposições. Foi nesse momento que Ricardo reuniu as mais de 150 imagens que fez e transformou sua dissertação em livro, como forma de fazer sua pesquisa acessível a mais pessoas.
Para viabilizar a edição e impressão de Bombas de Chimarrão – Origens, Tradição e Cotidiano, Ricardo da Silva Mayer começou uma captação coletiva pelo Catarse. Leitores, empresas ou livrarias podem fazer a compra antecipada da obra pelo site, o que irá possibilitar a finalização do livro. O lançamento está previsto para setembro de 2021.