Análise de solo no RS avalia nutrientes e produtividade de diferentes sistemas

A Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR-RS) apresentou no dia 14 de maio o diagnóstico de solo e nutrição dos ervais do Rio Grande do Sul. A análise envolveu 100 produtores dos 5 polos ervateiros do Estado. A apresentação foi feita pelo pesquisador da SEAPDR-RS, Bruno Brito Lisboa, que coordena pesquisa, no programa Chimarrão com Inovação, transmitido online.

A coleta de dados incluiu 128 ervais, de onde foram coletadas amostras de solo e de tecidos foliares em 2020, com o objetivo de gerar informações sobre a fertilidade do solo e nutrição vegetal dos ervais. Além da análise de solo e folhas, foi feita a aplicação de um questionário com os produtores. A pesquisa tem continuidade neste ano, com amostras em mais de 100 localidades. “Muitos produtores nunca haviam realizado uma análise de solo. O maior retorno vai ser o resultado final que vai influenciar em toda a cadeia”, aponta Bruno.

Resultados

A análise começou pela produtividade. A maior encontrada foi de 2400@/ha, enquanto a menor colhe 200@/ha. A média ficou em 746@/ha, número considerado baixo. “Pode-se produzir o dobro”, ressaltou Bruno. Destes, apenas 8,8% têm produção acima de 2000@/ha, enquanto 34,2% tem produção abaixo de 500@/ha. “Esse número tem puxado a média para baixo, dado que temos que levar em consideração”, indica o pesquisador. Ele ressaltou na apresentação que em áreas de alta produtividade, há elevada produtividade por planta – ao menos 0,34@/planta (5kg por planta).

Quando analisada a produtividade em relação ao sistema de produção, os plantios em sistemas agroflorestais (SAF) e a pleno sol têm maior produtividade que os sistemas sombreados, possivelmente devido à baixa radiação solar que atinge as plantas. Porém, os índices nutricionais são muito parecidos nos diferentes modelos de plantio.

Quanto à disponibilidade de macronutrientes no solo, o fósforo (P) foi considerado baixo em 50% dos ervais, enquanto o potássio (K) foi considerado alto em 83% das amostras. Já o magnésio (Mg) é alto em 79% das propriedades analisadas e o cálcio (Ca) varia entre alto (56%) e médio (25%).

Uma das correlações foi encontrada com o fósforo, que apresenta níveis baixos quando a produção de folhas de erva-mate é alta. Não foi identificada uma correlação direta entre os níveis de potássio, magnésio e cálcio. “Não fica claro que algum desses nutrientes pode estar alterando a produtividade de erva mate”, indica Bruno. Tampouco foi identificada uma correlação linear entre produtividade e densidade de plantas – foi identificada a influência da densidade de plantas sobre a produtividade dos ervais”.

Segundo Bruno, o fato de a erva-mate ser uma cultura perene dificulta a identificação de uma relação entre produtividade e disponibilidade de nutrientes no solo no momento da coleta. “O solo indica apenas as condições naquele momento específico. Como a erva-mate é perene, ela tem muita reserva: mesmo despodando, ela tem reservas de cálcio, fósforo e nitrogênio, o que contribui para a formação de novas brotações. Isto é, mesmo com pouco fósforo no solo, a planta tem uma reserva interna que faz com que ela consiga superar essa deficiência do solo”, explica ele.

Por isso, foram realizadas também análises com o tecido foliar das plantas, buscando entender e encontrar correlações entre a disponibilidade de nutrientes do solo e as reservas das plantas. Nessa análise, foi utilizado o método de chance matemática para identificar a faixa nutricional onde ocorre a maior chance de ocorrência da alta produtividade na erva-mate.

Quando se trata das folhas, o teor foliar de nitrogênio em 83% dos ervais analisados está dentro da faixa de suficiência (entre 1,28 e 2,44). A matéria orgânica foi considerada em bons níveis na maioria dos ervais. Já o fósforo (P) exemplifica bem a reserva das plantas: enquanto a maior parte dos solos analisados apresentou baixos teores de P, as folhas de 94% das amostras estão dentro dos níveis adequados (entre 0,07 e 0,27%). O potássio (K), cuja faixa de suficiência está entre 1,4 e 2,42%, varia bastante nas coletas foliares: 56% estão dentro da faixa e 36% estão com níveis altos. A correlação entre a absorção de cálcio e magnésio em plantas com alto nível de potássio ainda está sendo analisada.

A análise das folhas ainda observou os níveis de enxofre (S) e apontou boa condição dos ervais, com 89% deles dentro da faixa de suficiência (entre 0,08 e 0,36%). O boro (B) também foi analisado, com 67% dos ervais dentro da faixa de suficiência (entre 36 e 84 mg/kg).

Outra correlação pesquisada foi entre produtividade e densidade de plantas por hectare. Os índices mais altos de produtividade se encontram em áreas que têm de 1465 a 3738 plantas por hectare, sendo que média de maior produtividade encontra-se com 2601 plantas por hectare.

Exportação de nutrientes

A princípio, baixa produtividade não tem a ver com nutrição”, explica Bruno. “Ela pode estar relacionada ao manejo da poda e ao material genético que está no campo. Mas vale sempre lembrar que adubar o erval é importante. Toda colheita gera exportação de nutrientes, que devem ser repostos a cada colheita para que se mantenha a produtividade”, completa ele.

Na apresentação, ainda foi citada uma pesquisa de mestrado sobre a exportação de nutrientes dos ervais, fator que nem sempre é levado em conta na produção dessa espécie perene. Por ciclo de colheita de 1000@/ha há exportação de cerca de 100kg de nitrogênio, 4kg de potássio, 25kg de cálcio e 20kg de magnésio – são valores de referência que indicam de maneira geral as proporções de exportação de nutrientes na colheita. O dado é interessante para alertar produtores sobre a importância da reposição de nutrientes através da adubação. Na pesquisa foi levantado que 63% dos produtores utilizam fertilizantes químicos em seus ervais, 22% utilizam adubos orgânicos, 15% não utilizam fertilizantes e 70% utilizam espécies para cobertura de solo, em especial o azevém.

A apresentação está disponível no Youtube:

Futuro da pesquisa

Os resultados desse raio-x dos ervais gaúchos indica os próximos passos da pesquisa. “A preocupação inicial era sabermos se havia uma limitação nutricional dos ervais que resultem em menor produtividade. Há nutrientes, como o fósforo, com níveis baixos no solo, apesar disso a nutrição da planta está adequada”, ressalta.

Agora, o trabalho será aprofundado. Além de aumentar o número de amostras para mais de 100, o trabalho também vai incluir coletas direto nas ervateiras para avaliação da exportação de nutrientes. Serão analisados os níveis críticos de nutrientes para a produção da erva-mate, análises integrando macro e micro nutrientes, e identificação dos fatores associados à produtividade, assim como a repercussão dos intervalos de podas.

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