Em um ano em que a crise econômica atinge o país, o setor de erva-mate sente os efeitos do contexto nacional. “A situação econômica do país sacrifica a erva-mate. Tudo que compõe o preço da erva-mate aumentou, mas a erva-mate não. Muitos itens tiveram os preços disparados no mercado, mas a erva-mate não”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate-RS), Alvaro Pompermayer.
A redução no auxílio emergencial atingiu o setor: com a diminuição da renda média das famílias, a erva-mate acaba sendo um item de menos emergência e fica fora dos carrinhos de mercado.
Ao mesmo tempo, 2021 deve seguir o padrão do ano passado, no qual houve redução de produção. Enquanto a produção do Rio Grande do Sul gira em torno de 300 mil toneladas por safra, 2020 viu os números caírem de 15 a 20%, o que deve se repetir neste ano. “São todos reflexos da seca”, afirma Alvaro. “Mas deve começar a melhorar na próxima brotação, especialmente se o tempo colaborar”, comenta Alvaro.
Para entender o contexto atual e as perspectivas de colheitas de 2021, o Portal do Mate conversou com Alvaro que, em conjunto com o extensionista rural da Emater/RS-Ascar, Ilvandro Barreto, passou a avaliação para essa safra.
Portal do Mate: Qual a expectativa de colheita para 2021? Ela deve ser menor do que no ano passado?
Alvaro Pompermayer e Ilvandro Barreto: A colheita relativa ao ano de 2021 tende a ser um pouco maior que a do ano passado, visto que a estiagem ocorrida nos anos de 2019 e 2020 provavelmente não se repetirá em igual intensidade como apresentou nesses dois últimos anos, nos quais a perda chegou à casa dos 30% de média no estado, conforme dados da Emater/RS nos ervais monitorados no período. No entanto, tende ainda a ser menor que em anos normais, quando a produção supera 300 mil toneladas.
O retorno mesmo que gradual das chuvas começa a recuperar a produtividade das plantas e ao mesmo tempo dar condições para que estas ampliem sua capacidade produtiva. A normalização das chuvas também irá melhorar o manejo dos ervais pelos produtores o que também é benéfico para o aumento da produção.
Portal: Uma possível redução na produção deve elevar o valor da erva-mate nos mercados?
Todo o desequilíbrio na oferta e demanda impacta os preços. No caso da erva-mate também ocorre isso. Porém, possíveis oscilações que possam ocorrer não serão bruscas nem muito grandes. Tende o preço a manter-se dentro do atual patamar. Podendo oscilar hora para mais, hora para menos. Depende também da qualidade da matéria prima que cada produtor tenha para oferecer bem como a escala de produção. Mas de maneira geral, o comportamento do mercado da folha tende a uma estabilização; e isto se reflete na prateleira. Exceto, que ocorra algo de novo como outra estiagem ou algum sinistro que não esteja no momento previsto.
Portal: Em 2012 os preços subiram e os consumidores acabaram reduzindo o consumo, isso poderia ocorrer novamente?
Os acontecimentos ocorridos entre 2012 e 2014, principalmente pela forte estiagem aliado a outros fatores de relação/controle na cadeia de produção dificilmente ocorrerão novamente, com elevações bruscas e abruptas no preço, de levar a arroba de erva-mate a ser comercializada na época até a R$ 35. Especulações de mercado, leituras imprecisas ou até mesmo movimentos da cadeia produtiva levaram a isso. Mas rapidamente os preços voltaram a um patamar de regularidade à medida que a matéria prima começou novamente a ser colhida e ofertada à indústria. O preço pago na prateleira também seguiu esse movimento. Uma alta imediata e posteriormente uma redução acompanhando a realidade do mercado.
Portal: A Argentina é um dos grandes importadores de erva-mate brasileira, que sai daqui com volumes altos e valores baixos. Como isso influi nos preços internos?
A Argentina recentemente tem comprado erva-mate brasileira, mas isso não é algo comum ao longo do tempo. Fica evidente que a retirada de matéria prima pelo país vizinho amplia a demanda pela folha de erva-mate no mercado interno e isso influi no preço pago ao produtor. A redução na produção na Argentina, pequena ampliação no consumo, a necessidade de formação de estoque e questões cambiais favorecem a compra pelos industriais argentinos. Maior procura mantém os preços aquecidos. Para o produtor é bom pois o mercado internacional paga bem.
No Brasil há uma grande oferta de produto, são mais de 200 indústrias, então a competição acaba baixando os preços. No ano passado o mercado interno aceitou o aumento de preços, nesse ano não. Mudou a situação econômica, há menos dinheiro no mercado interno e não houve aceitação de aumento de preços.