Especial Nutrição (parte 2): Como fazer a calagem do erval?

Nesta segunda reportagem sobre a nutrição de ervais, o engenheiro florestal Delmar Santin, doutor em solos e nutrição de plantas, explica os detalhes sobre o uso do calcário em ervais.

Comum em culturas anuais, a calagem tem um aspecto diferente no erval: para essa planta, o pH não é o fator que determina a quantidade de calcário aplicada no solo. Essa e outras dúvidas comuns entre os produtores são explicadas em detalhes para ajudar na tomada de decisão com base em conhecimento técnico especializado.

No primeiro texto dessa série, abordamos os detalhes da adubação de ervais, da implantação até a fase produtiva. Agora, falamos de calagem. E na entrevista que finaliza a série, vamos abordar a adubação orgânica.

1 – Quais as funções do calcário nos ervais?

No caso da erva-mate, ele é aplicado não para corrigir o pH do solo, mas exclusivamente para disponibilizar cálcio e magnésio para a cultura de erva-mate.

2 – O preparo do solo para plantio de erva-mate necessariamente inclui a aplicação de calcário?

Não, o que define a necessidade de aplicar ou não calcário é a análise de solo. Seguindo a recomendação de adubação para a cultura de erva-mate, o critério necessário para aplicar calcário é teor de cálcio e magnésio em níveis baixos no solo. Não necessariamente todos os solos terão esses níveis baixos, tem muitos solos que são naturalmente ricos em cálcio e magnésio, principalmente os neossolos basálticos do Rio Grande do Sul – muitos solos dali não precisam de calcário. Mas só saberemos disso a partir da análise de solo.

3 – Quais os teores de cálcio e magnésio indicados para a erva-mate?

Quanto ao cálcio, é interessante que ele fique entre 2 a 5 cmol/dm³ de solo e o magnésio na faixa de 1 a 2 ou 2,5 cmol/dm³ de solo. Esses são os teores disponíveis adequados para a cultura de erva-mate. É importante tomar muito cuidado com o cálcio. No momento em que ele começa a passar acima de 6 ou 6,5 cmol/dm³, ele começa a ser prejudicial para a cultura da erva-mate. Por isso muitas pessoas plantaram erva-mate em ambientes com o solo corrigido para culturas agrícolas e não deu certo, pois a erva-mate não gosta de teores acima desses limites.

4 – Qual o pH ideal para a erva-mate?

Essa é uma pergunta recorrente. Agronomicamente falando, para culturas anuais ou até mesmo perenes, como videiras e cítricas, leva-se muito em conta o pH em virtude que, em pH baixo, grande parte desses solos teria alumínio tóxico para essas culturas. Já para a erva-mate não precisamos olhar o pH. O mesmo vale para a saturação de base. A tomada de decisão para aplicação de calcário é simplesmente a disponibilidade de cálcio e magnésio, o pH não precisa ser observado.

A tomada de decisão para aplicação de calcário é simplesmente a disponibilidade de cálcio e magnésio, o pH não precisa ser observado.
Delmar santin

5 – Porque o pH não precisa ser levado em conta na erva-mate?

Justamente por causa do cálcio: no momento em que o pH do solo é corrigido, vamos elevar em quantidades muito altas o teor de cálcio no solo, que é prejudicial para a erva-mate. Essa planta convive muito bem em ambientes com pH ácido (baixo) e com alta disponibilidade de alumínio, que normalmente é tóxico para as plantas de culturas anuais, mas para erva-mate não. Então não precisamos nos preocupar com o pH do solo. Nós precisamos sim apenas nos preocupar com a disponibilidade de cálcio e magnésio para a cultura da erva-mate.

6 – O calcário deve ser aplicado novamente após o plantio? Com que frequência?

O que define se há necessidade, quando será reaplicado o calcário e se é necessário ou não aplicar é a análise de solo. Toda vez que cálcio ou magnésio estiver baixo, ou somente um deles baixo, deve ser aplicado calcário, mas a frequência depende. Em alguns solos pode levar quatro anos, outros de cinco a seis anos, depende muito de cada condição e tipo de solo.

O importante é levar ao pé da letra o que a análise de solo indica para escolher qual produto aplicar.
Delmar Santin

7 – Há diferença entre as tipos de calcário disponíveis no mercado?

Há dois tipos de calcário, o calcário calcítico, que tem apenas cálcio na constituição, e o calcário dolomítico, que tem cálcio e magnésio. É possível aplicar outros produtos para disponibilizar cálcio e magnésio, como a cinza da queima de madeira. E até outros produtos e subprodutos das caldeiras de indústrias. Muitos perguntam sobre o gesso, na sua constituição só tem cálcio e enxofre, então temos que ter cuidado.

O importante é levar ao pé da letra o que a análise de solo indica para escolher qual produto aplicar. Já recebi análises de solo onde temos teor de cálcio alto e magnésio baixo, nesse caso não temos no mercado um corretivo só de magnésio. Para corrigir isso é necessário comprar adubos magnesianos e eles são muito caros.

8 – Como fazer a calagem quando as entrelinhas são utilizadas para plantios anuais?

Esse é um desafio, pois há necessidade de correção de pH para culturas anuais, que estarão nas entrelinhas, e na linha não se pode fazer essa correção de pH, pois pode-se elevar a teores muito altos de cálcio no solo a ponto de prejudicar o crescimento da cultura de erva-mate.

Mas como o calcário aplicado no solo é pouco móvel, pode-se fazer o seguinte: aplica-se calcário em uma faixa central na entrelinha, para corrigir o pH em virtude da cultura anual. Já na linha, respeitando uma faixa entre de 1 m a 1,20 m de largura, aplica-se calcário somente para atender à demanda de cálcio e magnésio para erva-mate. Assim funciona.