Pesquisa desenvolve mudas de erva-mate com diferentes teores de cafeína

Uma pesquisa realizada pela Embrapa Florestas pode redirecionar os plantios futuros de erva-mate no Brasil. Liderado pelo pesquisador Ivar Wendling, o desenvolvimento de mudas clonais com diferentes teores de cafeína poderá propiciar que agricultores plantem, em alguns anos, ervais descafeinados ou com altos teores de cafeína – uma inovação que visa tanto o chimarrão e tererê como os diversos produtos que podem ser desenvolvidos à base da planta.

A pesquisa original começou na década de 1990, com plantios para testes. Sementes de diversos locais foram plantadas em regiões diferentes. Uma delas é no município de Ivaí, no centro-sul do Paraná. Foi lá que começaram as análises químicas, para elencar os compostos da folha da erva-mate.

A pesquisadora Cristiane Helm assumiu as análises químicas de 109 árvores a partir de 2009. “Começamos com a quantificação de cafeína, compostos bioativos e proteínas totais. A gente descobriu que algumas árvores não tinham cafeína nas folhas e foi uma surpresa: então existe erva-mate sem cafeína?”, lembra ela.

Plantio de erva-mate com diferentes teores de cafeína em Ivaí (PR).
Foto: Ivar Wendling / Arquivo pessoal

Os anos de estudos e análises concluíram que a quantidade de cafeína presente em uma planta de erva-mate tem de 75 a 85% de herdabilidade genética, passando de uma geração para outra. O restante da porcentagem é relacionada aos tratos com a planta, como adubação, e fatores ambientais, como a temperatura.

A adubação com nitrogênio e o calor influem – quanto mais nitrogênio e mais calor, mais cafeína”, conta Ivar. Já a correlação entre os demais compostos bioativos, como os antioxidantes, ainda não está clara, mas tem mais ligação com fatores ambientais.

Reprodução de mudas

Desde 2010, a pesquisa passou para a fase de desenvolvimento de mudas. 60 plantas, que demonstravam destaque nos compostos químicos, foram reproduzidas. “Escolhemos aquelas com características mais interessantes, como as descafeinadas ou as com alto teor de cafeína, teobromina ou antioxidantes, assim como a alta produtividade”, explica Ivar.

As análises químicas são feitas anualmente, para estudar o comportamento e a variação dos compostos nessas plantas ao longo dos anos. “Nosso propósito é ter mudas com teores específicos dos compostos, independente dos fatores ambientais”, complementa Cristiane.

A produção de mudas clonais se dá pelo método de miniestaquia. Foto: Ivar Wendling / Arquivo pessoal

Após quatro anos de estudos das mudas nos laboratórios, agora essas plantas já estão sendo testadas no campo. Duas áreas já foram implantadas com 15 cultivares diferentes das mudas desenvolvidas na Embrapa Florestas e outras duas áreas em fazendas parceiras ainda devem ser implantadas. São 100 plantas de cada cultivar que seguem com acompanhamento de pesquisa por mais 3 ou 4 anos – forma de confirmar a estabilidade dos compostos em campo.

Ao longo desse processo, os produtores parceiros ainda podem se beneficiar já criando novos produtos da erva-mate. “O produtor vai poder colher uma quantidade significativa de cada clone e, se quiser, já desenvolver produtos com essas características específicas das plantas, como um chimarrão descafeinado”, conta ele.

Conforme o estudo chega mais perto do fim, viveiros parceiros já estão sendo treinados para a produção de mudas em escala comercial. O processo é via clonagem, para manter 100% do genótipo da planta desejada.

Foto: Ivar Wendling / Arquivo pessoal

Ao fim da pesquisa, pretende-se disponibilizar comercialmente mudas com teores específicos de cafeína, visando diferentes aplicações da erva-mate – sempre acompanhados das avaliações químicas e sensoriais.

Quando as mudas chegarem ao mercado, já teremos opções de produtos para esses materiais. Não adianta ter essa genética e investir apenas em chimarrão. Estamos tentando dar alternativas para a inserção no mercado”, defende Ivar.

Cristiane concorda e complementa que a erva-mate poderá ser usada para públicos muito específicos. “Tem aqueles que não podem consumir cafeína, ou um público que não gosta do amargor e quer erva-mate mais suave. Vamos ter produtos para cada classe da população”, vislumbra.

Alto teor de proteína

Nas análises químicas, Cristiane Helm descobriu a correlação entre os teores de cafeína e proteína na erva-mate, que são diretamente proporcionais: quanto mais cafeína, mais proteína.

A erva-mate tem de 5 a 20% de proteína a cada 100 gramas, quantidade considerada alta para espécies vegetais.

A pesquisa também identificou a diferença entre folhas jovens e folhas adultas. Nas folhas jovens, o teor de cafeína e proteína é mais alto do que nas folhas adultas, indicando que a planta protege suas brotações.

A pesquisadora explica que a proteína, não sendo hidrossolúvel, não é disponibilizada em bebidas como o chimarrão e o tererê, permanecendo na borra que é descartada. “A ideia de incluir a farinha de erva-mate em preparos de receitas é o grande foco, para termos o consumo integral da folha em forma de produtos. Vai muito resíduo fora e este é um ouro verde”, destaca.

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